Pastilhas efervescentes
Pode parecer estranho, mas essas bolhas escondem mais riscos
ao coração do que você imagina. Segundo um estudo publicado em janeiro
no
British Medical Journal, existe uma relação entre as
pastilhas e infartos ou AVC. Os pesquisadores da Universidade Dundee
analisaram exames médicos de 1,2 milhões de pacientes britânicos e
descobriram que tomadores regulares de medicamentos efervescentes eram
sete vezes mais propensos a desenvolver pressão alta ou
hipertensão,
além de correrem um risco 16% maior para eventos cardiovasculares, como
infarto e AVC. O estudo analisou 24 diferentes remédios efervescentes,
incluindo os principais analgésicos, como paracetamol e ácido
acetilsalicílico, assim como suplementos.
Essa relação acontece porque esses
medicamentos
possuem grandes quantidades de sódio. Segundo o estudo, algumas
pastilhas de 69 mg a 415 mg de sódio - aproximadamente um quinto de uma
colher de chá. O consumo diário recomendado para um adulto é de 2000 mg
a 2400 mg, equivalente a 6 gramas de sal.
Olhando para esses
números isoladamente, os medicamentos não parecem oferecer uma ameaça
tão grande - afinal, seria necessário ingerir uma quantidade muito
grande deles para chegar as recomendações diárias estipuladas pela
Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, devemos pensar que esses
remédios só agregam à lista de alimentos ricos em sódio que são
ingeridos ao longo do dia, como refrigerantes outros industrializados.
"Quando em excesso no organismo, o sódio fica acumulado no sangue em vez
de ser absorvido pelas células, ocorrendo o que chamamos de
desequilíbrio osmótico, já há maior concentração do mineral fora das
células do que dentro delas", explica o cardiologista Luiz Ferlante, do
Hospital Samaritano de São Paulo. Para equilibrar esses níveis, o corpo
precisa de mais água circulando pelo sangue, reduzindo assim as
concentrações de sódio. "A retenção de água faz o volume de sangue nas
artérias aumentar, e por isso o coração precisa bombear mais sangue do
que o normal, aumentando a pressão sanguínea", diz Luiz. Quando esse
problema se torna crônico, temos a hipertensão arterial, que por si só
aumenta o risco de diversas doenças cardiovasculares.
Caso você
use medicamentos efervescentes de forma contínua, converse com o médico e
discuta seus riscos. Se não, o ideal é não usar com frequência e sempre
ficar atento à alimentação de forma geral.
Doenças inflamatórias
Pesquisadores da Clínica Mayo descobriram que a
artrite reumatoide
pode ser considerada um fator de risco para doenças do coração. O
levantamento sugere que as altas quantidades de moléculas inflamatórias
no corpo dos pacientes com artrite reumatoide pode aumentar o risco de
doença cardíaca. Esse estado inflamatório pode favorecer a oxidação do
colesterol bom (HDL), que se transformará em colesterol ruim (LDL). Todo
esse cenário favorece doenças como hipertensão, angina, insuficiência
cardíaca, entre outros.
Entretanto, não é só a artrite
reumatoide que pode elevar as inflamações no organismo. Outras doenças
bem mais comuns, como obesidade e
diabetes tipo 1,
também são inflamatórias e aumentam o risco cardíaco quando
descontroladas. "O tecido adiposo é um grande produtor de substâncias
inflamatórias - e os adipócitos (células de estoque da gordura) aumentam
em número e volume com a
obesidade",
afirma o endocrinologista Isaac Benchimol, do Conselho Empresarial de
Medicina e Saúde da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ele explica
que o organismo se cansa de corrigir o erro alimentar e o sedentarismo, e
vai progressivamente lançando de volta na circulação o colesterol e os
triglicerídeos que não conseguiu armazenar no fígado e tecido adiposo.
Essa gordura em excesso no sangue pode formar placas e entupir as
artérias, causando um infarto ou AVC. Já no caso do diabetes tipo 1, o
excesso de glicose no sangue pode lesionar a parede das artérias,
causando inflamações que podem corroborar com um aumento do risco de
eventos cardiovasculares.
Temperaturas baixas
Um grupo de pesquisadores da London School of Hygiene and
Tropical Medicine encontrou uma relação entre a temperatura do ambiente e
o risco de ataque do coração. Eles descobriram que uma queda brusca na
temperatura aumenta as chances de uma pessoa ter um infarto. Segundo os
autores, a relação é tão estreita que a cada grau a menos em um único
dia, há um aumento de 200 casos de infarto.
Os pesquisadores analisaram dados de 84 mil casos de
infarto
em hospitais entre 2003 e 2006 no Reino Unido, fazendo um levantamento
de 15 áreas geográficas com temperaturas diferentes e que sofreram
alterações climáticas. Eles descobriram que os casos de infarto
aumentaram em 2% duas semanas depois de uma forte frente fria que
atingiu a maioria das 15 zonas pesquisadas. "Nos dias frios, o corpo
humano reage naturalmente à mudança de temperatura gerando uma
vasoconstrição das artérias - e isso resulta em um aumento da pressão
arterial", explica a angiologista Aline Lamaita, da Sociedade Brasileira
de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Dessa forma, pessoas que já possuem fatores de risco para doenças cardiovasculares, como obesidade,
sedentarismo
e hipertensão, podem ter esses efeitos potencializados quando o
termômetro fica mais baixo. O ideal é cuidar da saúde como um todo e ter
atenção redobrada nos dias mais frios.
Desastres naturais
Quem já passou por um desastre natural traumático, como uma
enchente ou desabamento de terras, sabe que esses eventos geram traumas e
podem mexer com o nosso coração. Segundo dados levantados pela
Sociedade Brasileira de Cardiologia esses eventos realmente tem um
efeito sobre a saúde do nosso coração. Eles analisaram os moradores de
Santa Catarina após os temporais que ocorreram em 2008 e deixaram 135
vítimas fatais. A organização descobriu que o sentimento de perda, a
pressão psicológica, a ansiedade e o estresse a que é submetida uma
população afetada ou mesmo aquela que assiste ao desastre atuam para
elevar a pressão arterial e a frequência cardíaca, causando um aumento
significativo do número de infartos.
Além disso, pesquisadores da
Harvard Medical School descobriram
que perder a pessoa amada aumenta em 21 vezes o risco de um infarto no
dia seguinte à morte e em até seis vezes na semana que se segue. Para o
estudo, eles revisaram o prontuário de atendimento e entrevistaram 1.985
pacientes de um hospital em Boston. Os pacientes responderam perguntas
sobre as circunstâncias de seus ataques cardíacos, bem como se
recentemente haviam perdido alguém importante em suas vidas no ano
anterior, quando a morte havia ocorrido e qual a importância de seu
relacionamento com a pessoa falecida.
O relatório, publicado no
Journal of the American Heart Association afirma
que o estresse causado por luto tem efeitos imediatos para a saúde, que
somados a perda de apetite e sono recorrente nesses casos pode agravar
ainda mais o risco. O sentimento de perda também pode fazer algumas
pessoas demorarem para retornar às suas atividades ou mesmo adotarem
hábitos nocivos à saúde, como se alimentar de forma errada ou iniciar
vícios.
Combinação de medicamentos
É muito importante saber se como um medicamento interage com
outros antes de tomar - e essa recomendação vale principalmente para
aquelas pessoas que já fazem tratamento para algum problema
cardiovascular, como a hipertensão. As estatinas, por exemplo, que
servem para reduzir o acúmulo de placas de gordura nas artérias nos
pacientes com colesterol alto, podem interagir com outros medicamentos,
como a varfarina, um anticoagulante que pode ser indicado para a
insuficiência cardíaca ou trombose. Além disso, antifúngicos,
antidepressivos e antibióticos são processados pela mesma via no
organismo, o que interfere no efeito de vários medicamentos protetores
do coração. "Por isso é fundamental dizer durante a consulta quais
medicamentos você já toma antes que ele faça a receita - isso ajuda o
médico ou médica a prescrever um fármaco que não sofra interações",
alerta a farmacêutica Patrícia Moriel, da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).
Vírus e bactérias
Os problemas de saúde bucal estão intimamente ligados com
doenças cardiovasculares. A falta de higiene oral favorece o acúmulo de
micro-organismos na região, levando ao aparecimento da cárie e outros
problemas na gengiva (periodontite e gengivite), bochechas, língua,
palato e toda mucosa oral. Esses organismos podem atingir áreas mais
profundas da mucosa oral, chegando aos vasos sanguíneos e infectando os
tecidos do coração. Dessa forma, é importante manter a escovação dos
dentes e língua com fio dental após as refeições, além das visitas
regulares ao dentista.
A vacinação contra o vírus da
gripe
e da pneumonia também é aliada da saúde cardíaca. As pneumonias podem
comprometer as trocas de oxigênio feitas pelos pulmões, comprometendo o
funcionamento do coração. "Além disso, os vírus e bactérias causadores
de doenças infecciosas podem viajar pelo nosso coração e chegar ao
coração", afirma o cardiologista Luiz. Dessa forma, pessoas que tem o
sistema imune mais debilitado ou doenças infecciosas graves devem ficar
atentos ao risco cardíaco.
Rotina da cidade grande
Um levantamento feito pela Secretaria de Estado da Saúde
aponta que, em média, 106 pessoas são internadas por dia em hospitais
públicos no Estado de São Paulo com AVC. Um dos motivos apontados pela
pesquisa é o estilo de vida urbano atual, que faz com que as pessoas
sejam mais estressadas, sedentárias, consumam alimentos ricos em
gorduras, fiquem acima do peso e desenvolvam pressão alta e diabetes
antes do que acontecia antigamente.
A poluição sonora e visual
das metrópoles, como anúncios luminosos, veículos e pessoas, podem levar
a um quadro de estresse - a musculatura fica tensionada, o coração
dispara, a pressão arterial sobe, o estômago fica cheio de suco gástrico
e o intestino trabalha bem devagar, além da agitação que dificulta a
concentração. De acordo com o clínico geral Dirceu Rodrigues Alves
Junior, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional na
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), os veículos
geram calor e poluente atmosféricos, além de fuligem. "A variação de
temperatura, a vibração do veículo por conta dos buracos ou o barulho
produzido pela vibração das janelas de um ônibus, por exemplo, debilitam
a saúde da pessoa e podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e
outros problemas."
Ter enxaquecas
Apesar de a dor de cabeça ser o principal sintoma da
enxaqueca, outros sintomas são muito comuns e podem ser também
importantes, como sensibilidade à luz e a cheiros e barulho, náuseas,
vômitos e sensibilidade a movimentos. "Esses sintomas são todos gerados
no cérebro, em áreas diferentes dele, que são mais sensíveis em quem tem
enxaqueca", explica a neurologista Thaís Rodrigues Villa, pesquisadora
da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Essa maior
vulnerabilidade do cérebro, principalmente se exposto aos já conhecidos
provocadores ou gatilhos da enxaqueca, ocorre devido a disfunções em
vários neurotransmissores como a serotonina, dopamina, noradrenalina e
glutamato. Essas substâncias tem um funcionamento diferente em quem tem
enxaqueca.
Estudos
recentes comprovaram que pessoas com enxaqueca tem um maior risco de
AVC e doenças cardiovasculares, principalmente quem tem enxaqueca com
aura, sendo esse risco aumentado se associado a tabagismo e uso de
alguns anticoncepcionais hormonais em mulheres. "A enxaqueca aparece
como fator de risco tão importante quanto à hipertensão arterial,
diabetes e obesidade", lembra a neurologista. A especialista afirma que
pacientes com enxaqueca apresentam maior frequência de lesões cerebrais,
pequenos AVCs e atrofia em algumas áreas do cérebro, ou seja, perda de
neurônios. "A enxaqueca não é uma simples dor de cabeça, tratá-la é
cuidar do seu cérebro e consequentemente da sua saúde como um todo."